O último dia útil do mês é sempre um momento de expectativa para o investidor de fundos imobiliários. É quando a maioria dos FIIs anuncia quanto vai depositar na conta de seus cotistas.
A principal trama do mês foi protagonizada pelos fundos de papel indexados à inflação. O IPCA mais baixo registrado nos meses de julho e agosto, que serve de base para os cálculos atuais, finalmente mostrou seu efeito. É como se o motor desses fundos, que é a inflação, tivesse recebido um combustível com menos octanagem.
O resultado foi uma queda nos rendimentos de vários FIIs conhecidos. O HABT11, por exemplo, viu sua distribuição recuar quase 10%, de R$ 1,05 para R$ 0,95 por cota. Na mesma linha, gigantes como o KNIP11 e o KNHY11 também ajustaram seus pagamentos para baixo. O KNIP11, segundo maior fundo da indústria, reduziu seu provento de R$ 0,70 para R$ 0,60, uma variação que levanta debates sobre a possibilidade de a gestão usar suas reservas para suavizar essas flutuações.
Nesse cenário, é tentador fazer comparações diretas e concluir que um fundo de papel é "melhor" que o outro. Contudo, não é bem assim. É preciso observar a diferença entre um fundo antigo e um novo. O KNIP11, um verdadeiro transatlântico do mercado, montou grande parte de sua carteira de crédito em um período de juros mais baixos, resultando em uma taxa média de aquisição de IPCA + 6,7%. Em contrapartida, um fundo mais recente como o ICRI11, que nasceu no final de 2023, teve a oportunidade de montar sua carteira em um cenário de taxas muito mais atrativas, surfando a onda do IPCA + 10%. Compará-los sem esse contexto histórico seria uma injustiça.
A noite de anúncios não teve apenas quedas. O HTMX11, conhecido por sua volatilidade, surpreendeu com uma alta de quase 49% em seu rendimento. Esse salto, provavelmente fruto de vendas de ativos, reforça o perfil do fundo, que exige do investidor um estômago mais forte e a compreensão de que esses picos não são recorrentes. Outra alta interessante foi a do KIVO11, com mais de 50%, mas por um motivo pontual: o recebimento de um valor que estava em atraso.
No campo da estratégia, o BRCO11, um dos principais fundos de logística, manteve seu dividendo em R$ 0,87. Analistas apontam que o fundo adota uma postura conservadora, ou, como se diz na gíria, está "correndo com o freio de mão puxado", dado que possui reservas robustas que poderiam permitir uma distribuição maior.
Já o TRXF11, do setor de renda urbana, se prepara para uma oferta bilionária que deve reduzir drasticamente sua alavancagem, um ponto que já foi alvo de críticas no passado. O que se coloca para o investidor é o dilema entre risco e retorno: um fundo com menos dívida pode se tornar mais seguro, mas isso pode significar um rendimento recorrente um pouco mais "apertado" no futuro.
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