O KNUQ11, fundo imobiliário de papel da Kinea, vem chamando atenção do mercado pelos dividendos robustos distribuídos recentemente. Com pagamentos de R$ 1,40 e R$ 1,50 por cota nos últimos meses, o fundo entrega uma rentabilidade que supera 100% do CDI líquido de imposto de renda, um desempenho que se destaca mesmo em um cenário de Selic elevada.
Emissão de cotas e impacto no portfólio
Em agosto de 2025, o fundo concluiu sua quarta emissão de cotas, captando aproximadamente R$ 625 milhões. Esse montante representa um aumento significativo no patrimônio líquido, que passou de cerca de R$ 1,5 bilhão para R$ 2,2 bilhões. A operação foi bem-sucedida, com a participação de mais de 6 milhões de novas cotas subscritas.
No entanto, essa captação trouxe um efeito colateral esperado: o aumento temporário da parcela em caixa. Ao final de setembro, o fundo apresentava cerca de 28% do patrimônio em instrumentos de liquidez (18,8% em títulos públicos federais e 9% em LCI), enquanto a alocação em CRIs caiu para 72%. Isso significa que, momentaneamente, o fundo está menos exposto aos ativos-alvo de sua política de investimento.
Esse cenário é natural após uma emissão de grande porte. A gestão precisa de tempo para identificar oportunidades que estejam alinhadas com a estratégia do fundo e que ofereçam spreads atrativos. Vale lembrar que o KNUQ11 busca retornos superiores ao CDI investindo em CRIs com perfil de risco mais elevado, o que exige análise criteriosa antes de cada alocação.
Dividendos: uso de reservas ou resultado genuíno?
Os dividendos recentes do KNUQ11 merecem uma análise mais detalhada. Historicamente, mesmo em períodos de Selic elevada (como em 2014, quando a taxa estava em 14,25% ao ano), o fundo nunca havia distribuído valores tão altos quanto os R$ 1,40 e R$ 1,50 pagos em agosto e setembro de 2025.
Parte dessa generosidade pode ser explicada pelo uso de reservas acumuladas. O fundo mantinha uma reserva não distribuída de aproximadamente R$ 0,39 por cota em setembro, valor que vem sendo gradualmente utilizado para complementar as distribuições mensais. Essa prática não é incomum em fundos de papel, especialmente durante períodos de emissão, quando se busca manter a atratividade para novos investidores.
Por outro lado, o patamar atual da Selic (15% ao ano) também contribui para os resultados robustos. Com uma carteira majoritariamente indexada ao CDI e um spread médio de 4,92% ao ano (considerando a marcação a mercado), o fundo se beneficia diretamente da política monetária restritiva. Isso significa que, enquanto a Selic permanecer elevada, os rendimentos tendem a se manter em níveis interessantes.
O desafio do residencial
Um ponto que merece atenção é a concentração da carteira no setor residencial. Aproximadamente 83% dos ativos do KNUQ11 estão expostos a empreendimentos residenciais, seja de forma direta (44,3%) ou pulverizada (38,8%). Essa concentração não é uma escolha deliberada da gestão, mas sim uma consequência da busca por spreads elevados.
No mercado de CRIs, operações com spreads de CDI + 5% ou mais estão, em sua maioria, vinculadas ao setor residencial. Outros segmentos, como logístico ou corporativo, tendem a oferecer taxas menores devido ao menor risco percebido. Assim, para manter a rentabilidade-alvo, o fundo acaba ficando refém desse setor.
Essa característica traz riscos específicos. Mudanças regulatórias que afetem o mercado imobiliário residencial, uma desaceleração econômica mais acentuada ou problemas estruturais em grandes incorporadoras (como a MRV, presente em diversos CRIs da carteira) podem impactar negativamente o desempenho do fundo. Por isso, é fundamental que o investidor esteja ciente dessa exposição e acompanhe de perto os indicadores do setor.
Garantias e mitigação de riscos
Apesar do perfil "high yield", as operações do KNUQ11 contam com estruturas de garantia que buscam mitigar os riscos. A maioria dos CRIs possui alienação fiduciária de imóveis, cessão fiduciária de recebíveis, fundos de reserva e avais de sócios e holdings. Essas camadas de proteção são importantes, mas não eliminam completamente o risco de crédito.
Um exemplo interessante é a carteira pro-soluto da MRV. Nesse tipo de operação, o CRI é lastreado em créditos já cedidos pela incorporadora, com cobertura de 150% do saldo devedor. Além disso, há um fundo de reserva que deve ser recomposto pela MRV em caso de inadimplência. Essa estrutura é mais robusta do que operações de risco corporativo puro, mas ainda depende da saúde financeira da incorporadora.
Outro ponto positivo é o prazo médio da carteira, que está em 2,4 anos. Isso significa que os CRIs têm vencimentos relativamente curtos, permitindo que o fundo recicle capital com maior frequência e se adapte a mudanças nas condições de mercado.
Perspectivas
O KNUQ11 está em um momento de transição. Com a captação recente, a gestão terá a oportunidade de diversificar melhor a carteira e, potencialmente, reduzir a concentração no setor residencial. No entanto, isso dependerá da disponibilidade de operações com spreads atrativos em outros segmentos.
Para os próximos meses, é provável que os dividendos se mantenham em níveis elevados, ainda que possam apresentar alguma volatilidade conforme a alocação dos novos recursos avança. A Selic em 15% ao ano continua sendo um fator favorável, mas é importante lembrar que o Banco Central já sinalizou que a taxa deve permanecer nesse patamar apenas até o final de 2025 ou início de 2026.
Vale destacar que o fundo adota o regime de competência para distribuição de dividendos, o que significa que os rendimentos são apropriados contabilmente mesmo que os CRIs ainda não tenham pago.
O KNUQ11 segue como uma opção interessante para quem busca exposição ao CDI com um prêmio de risco, mas exige atenção aos fundamentos da carteira e à evolução do cenário macroeconômico.
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